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Jornalismo de dados denuncia realidade que governos tentam esconder

Jornalistas enfrentam dificuldades para obter dados oficiais em apurações precisas para a sociedade

Em um mundo globalizado onde notícias e fatos mudam a todo instante, jornalistas especializados e treinados para apurar informações através de uma grande quantidade de dados brutos têm o papel de informar, orientar e ajudar a sociedade a tomar decisões através de cenários confiáveis, retratados através de matérias de fácil interpretação.

Uma iniciativa do G1 em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública deu origem ao Monitor de Violência, que busca traduzir e mapear de forma prática o cenário da violência no Brasil. Segundo o levantamento, o país registrou 43.829 mortes violentas durante todo o ano de 2020, número 5.18% maior em comparação com 2019, quando 41.730 mortes foram registradas.

As iniciativas jornalísticas que buscam apurar cenários através de dados não se limitam apenas ao Brasil. Nos Estados Unidos, a investigação Death & Dysfunction, do portal jornalístico NJ.com, denunciou falhas no funcionamento do sistema médico legal do estado americano de Nova Jersey em uma investigação que levou 18 meses. De acordo com a apuração, os legistas de Nova Jersey rejeitaram dois terços dos cerca de 420.000 casos encaminhados a eles, de 1996 a 2016, 20 a 30% a mais do que em estados com sistemas estaduais semelhantes.

Segundo o jornalista Alex Howard, em um relatório para o Tow Center da Universidade de Columbia, o jornalismo de dados pode ser definido como o responsável por “reunir, limpar, organizar, analisar, visualizar e publicar dados para apoiar a criação de atos de jornalismo”.

Através desta modalidade jornalística é possível, por exemplo, traçar fatos através de informações que podem ter diferentes interpretações dependendo do cenário em que for estudado, levando em consideração porcentagens e comparações dentro de números limitados. Um exemplo disso se dá em apurações que apontam fatos considerando o contraste entre números totais e a taxa populacional de região para região, tornando possível apurar a verdade através de diferentes narrativas.

Por outro lado, para a realização deste trabalho, os jornalistas dependem de informações brutas e confiáveis de autoridades, institutos de pesquisa e órgãos, e, frequentemente, estes profissionais se deparam com obstáculos na obtenção de informações. No caso do Monitor de Violência, por exemplo, existe a indicação no site que os dados apresentados não foram disponibilizados pelos governos estaduais, apesar do pedido feito pelo G1.

Neste cenário, percebe-se que o Jornalismo de Dados tem o papel de escancarar uma realidade que autoridades tentam manter em sigilo, como prova o jornalista Artur Rodrigues em entrevista para a Folha de S. Paulo. É comum que o governo não responda o que foi pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI), faça de maneira parcial, passe do prazo estabelecido, que é de 20 dias, podendo se estender por mais 10, ou apresente os dados de forma que dificulte a organização. “O PDF é o inimigo número um da LAI”, comenta.

Texto - Jornalistas - Fernanda Pereira, Natália de Mitri e Viviane Duranti